Friday, July 10, 2009

A REESTRUTURAÇÃO DA GNR E OS APITOS






No início de Janeiro de 2009, mercê da extinção da Brigada Fiscal, fui colocado num posto territorial sem ter tido qualquer formação ou instrução para desempenhar esta nova exigente tarefa. Pareceu-me coisa estranha quando todo o país está envolvido numa revolução formativa (tipo varinha mágica) que as “Novas Oportunidades” são o exemplo paradigmático.


Cada situação que surgia era uma novidade, havia, há, procedimentos adequados a tomar, há expediente a elaborar para enviar, por exemplo, a tribunal, e, fundamentalmente, é necessário dar uma resposta pronta aos cidadãos e com o mínimo de profissionalismo. Não era pois fácil.

Andávamos para ali atarantados há três ou quatro meses, a aprender por tentativa e erro – o que é lamentável numa polícia do século XXI – e “injuriando” os brilhantes comandantes que não nos tinham dado qualquer tipo de instrução durante todos aqueles meses.
Certamente a “coisa” soube-se e, o excelentíssimo capitão comandante do Destacamento Territorial X, reuniu todos os guardas vindos da extinta Brigada Fiscal para terem uma manhã de instrução na sede do destacamento, E, sublinhe-se, "dada por ele próprio".

Lá fomos, motivados, finalmente iríamos ter umas “luzes” sobre o serviço que andávamos há cerca de quatro meses a desempenhar às "apalpadelas". Estaríamos para aí no fim de Abril e a instrução iria ser semanal. Uma manhã todas as semanas.
Feitas as apresentações, e depois de uma “queixa” nossa sobre nos sentirmos stressados e sem confiança para desempenharmos um serviço que desconhecíamos por completo. O sr. capitão logo nos confortou dizendo para não nos preocuparmos com essa insegurança, pois os civis o que viam era um militar fardado, como os outros, não sabendo eles que esse militar não percebia nada do serviço que estava a desempenhar. Devíamos pois mostrar segurança e autoridade que tudo correria bem. O que quer dizer, mesmo que fizessemos "porcaria" não haveri agrande mal nisso. o Essencial era manter sempre a compustura militar.

Depois começou a instrução propriamente dita. O sr. capitão começou por nos informar como nos devíamos apresentar a ele quando rondasse os postos. “ Eu sei que vocês lá na fiscal não estavam muito habituados às apresentações, e tenho notado que alguns se não me apresentam da maneira regulamentar. É muito simples. Cobrem a cabeça com o barrete, se o não tiverem, colocam-se em sentido, fazem continência e pedem licença para se apresentar, depois do meu assentimento, dizem o vosso nome e o serviço que no momento estão a desempenhar. É simples!”

E a instrução continuou:
“ Eu sei que vocês, lá na Fiscal, não usavam botas de cavalaria. Eu penso que esteticamente um guarda fica melhor de botas de cavalaria, mas vocês é que sabem… quem não quiser não compra. Podem usar as outras botas, têm é que andar sempre com elásticos nas calças. Isso eu exijo.

E continuou a instrução:

“Há um aspecto que vocês tem que ter muita atenção quando estão de atendimento ao Público: os apitos!” Eu sei que lá na Brigada Fiscal vocês não tinham apitos, mas aqui tem de apitar. Para mim são dois apitos, para o comandante da unidade são três apitadelas…”

E lá continuou o sr. capitão a ensinar-nos o numero de apitadelas que deveríamos dar consoante a patente ou cargo do visitante ao posto.

E com esta matéria dos apitos, realmente muito útil para o serviço policial a desempenhar nos postos territoriais, terminou a instrução dessa manhã.

Estávamos em finais de Abril e, até à data, 9 Julho, não houve qualquer outra instrução.

E ESTA, HEM!?

Thursday, July 09, 2009

A REESTRUTURAÇÃO DA GNR E O DESPREZO DOS MILITARES PELA SOCIEDADE CIVIL



Quando me aproximo do fim da carreira (já passaria as tardes a comer caracóis e a beber cerveja se o nosso protector e ideólogo Eng. Sócrates não tivesse mudado as regras a meio do jogo) a reestruturação da Guarda veio trazer-me um período de grande desassossego - diria mesmo aflição, se os camaradas do posto territorial para onde me enviaram não fossem compreensivos e bons didactas e os portugueses não estivessem já habituados a ser pacientes com os maus serviços prestados pelo Estado.
Da inutilidade da Brigada Fiscal, sentenciaram mentes iluminadas, a começar pelo forte grupo de pressão de oficiais de alta patente (A GNR nunca soube o que fazer com a Guarda Fiscal/Brigada Fiscal) denominados de “castelhanos”, pois nada mais fazem que glorificar e copiar a estrutura orgânica da Guardia Civil, que sempre foi um ramo do exército espanhol, e não uma força de segurança como a GNR era, até há bem pouco; a acabar no dr. António Costa, ex-ministro da Administração Interna, que “partindo a loiça toda” com uma reestruturação atabalhoada e mal pensada, se pôs a andar para a Câmara de Lisboa deixando os “cacos” todos para o ministro Rui Pereira, polícias e guardas, apanharem.
No início da década de 90 do século passado, também outras mentes iluminadas e isentas tinham sentenciado o fim da Guarda Fiscal, a começar pelo honesto secretário de estado das finanças, Oliveira e Costa, passando pela sempre mesma trupe de oficiais da Guarda/Exército que “apunhalaram” o último comandante geral da Guarda Fiscal, general Hugo dos Santos (um capitão de Abril) a acabar no insuspeito dr. Dias Loureiro, então ministro da Administração Interna.
Os governantes que mantiveram a Guarda Fiscal durante mais de um século foram, claro está, obtusos e incompetentes.
Mas, parafraseando o meu ex-comandante do Destacamento Fiscal X, capitão "Abelha", "Caralho! Acabou, acabou, foda-se!"E, de um dia para o outro, lá fui recambiado para um Posto Territorial. Como andei a vida toda a fazer noitadas, patrulhas e sentinelas (ainda sou do tempo dos turnos de 4 horas de serviço, 8 de folga), não estranhei muito a escala do territorial, embora, sejamos honestos, na actual conjuntura social e laboral trabalhar sete dias seguidos para descansar ao oitavo, é OBRA! - senão crime!
Eu até sei das similitudes que os militares, os de alta patente, claro está, encontram com a divindade superior quando se olham ao espelho... mas querer que o "pobre" patrulheiro, o "pau-para-toda-a-obra", esse ser “inferior” na hierarquia militar e mesmo na classe de praças, agora guardas, supere o Criador é exagerado. É que Deus criou o mundo em 6 dias e descansou ao sétimo.

Nós sabemos que os militares sempre se julgaram acima da dita "sociedade civil", que lhe vai pagando o ordenado. Ainda há pouco tempo, era da gíria nos quartéis da Guarda, fazer referência ao global dos não fardados como: "Esses cabrões dos civis!" ou "Os civis são todos uns filhos da puta!", não se distinguindo entre o honesto chefe de família e cidadão com o IRS em dia e o mais bárbaro assassino - "os civis são uns cabrões que de vez em quando é preciso dar umas murraças no posto para andarem com a garupa baixa".
Mas a Democracia vai contaminado e é preciso outra linguagem, outra imagem, pelo menos enquanto se mantiver o intervalo democrático. E o "cabrão do civil" transvestiu-se em " sr. cidadão". Mas, no fundo, o desprezo pela sociedade civil mantém-se, camuflado. E na camuflagem são os militares exímios camaleões. É por isso que os patrulheiros do territorial, aqueles que servem directamente o cidadão e são, no fundo, a razão de ser da Guarda são tidos como párias dentro da estrutura da Guarda. Tudo falta nos PTs, que deviam estar apetrechados para bem servir os cidadãos, desde instalações, a equipamentos, a pessoal, a horários de trabalho saudáveis ( e quando digo saudáveis é para a saúde mental e física). Mas como os PTs são para servir a sociedade civil têm, PROPOSITADAMENTE, aquele aspecto de abandono e degradação próprio das estruturas que estão vocacionadas para servir as classes mais baixas da hierarquia social. Essa degradação contrasta com os gabinetes, carros e messes dos senhores oficiais. E mesmo que alguns autarcas e a administração central edifique novas instalações, depressa a não substituição do mobiliário, a falta de pintura das paredes, dá lugar ao "pâté" necessário para tornar o espaço no ambiente degradante exigido para os locais onde circulam as pessoas de baixa condição. Quem visita, por exemplo, a messe de oficiais do quartel do Carmo, tem obrigatoriamente de fazer uma associação com o partido bolchevique da ex URSS ou com os regimes fascistas. Quem conhece os quartéis de maior dimensão da Guarda, o Carmo é exemplo paradigmático, sabe que há uma porta principal com um tapete vermelho por onde entra e circula a classe oficial dirigente (a porta que dá para o largo do Carmo), a restante “maralha” entra por uma porta lateral, a das “cavalariças”, que dá para a calçada do Carmo).

O sentimento de desprezo com que os militares continuam a devotar à actual sociedade civil democrática, que lhe retirou nos últimos décadas muito do poder político que tinham, leva a que privilegie e beneficie tudo o que não é serviço territorial/policial. Seja Unidades de Intervenção para "combater" no estrangeiro, sejam Grupos de Operações Especiais seja fanfarras e guardas de honra. Tudo o que é estritamente militar é acarinhado, tudo o que é para proteger o cidadão no quotidiano é deixado ao desleixo - os militares são para grandes causas, não para perseguir meliantes (civis) que roubam carteiras a outros civis.
É por isso que os patrulheiros do territorial tem um horário de trabalho com uma qualidade muito inferior ao restante efectivo e apesar de, na prática, serem os que morrem mais ( quer em serviço, quer por se suicidarem devido ao regime a que são sujeitos) não têm direito a qualquer subsídio suplementar, como os seus colegas " especiais". Não é por acaso que ir para o Territorial é considerado, muitas vezes, como um castigo. "Toda a gente" se tenta livrar daquela "escravidão" e para isso pululam as cunhas e empenhos, o que agrada à classe superior e que é uma característica dos regimes autoritários e... corruptos.

Bom, isto para dizer que a GNR me colocou num posto territorial, portanto para servir os cidadãos sem me ter dado o mínimo de formação para isso. E isso demonstra bem o desprezo ou desinteresse que tem por esses mesmos cidadãos. Não pode haver outra interpretação.
Perguntará o leitor menos conhecedor da questão. " Como é que não tem formação se é militar da GNR?"
Acontece que as mentes iluminadas que elaboraram a reestruturação pensaram, com o lápis debaixo da orelha, assim:
"Ora a Brigada Fiscal tem 3000 homens, a nossa costa é rochosa e não é atreita a contrabando, os nossos cidadãos tem forte consciência cívica já pagam todos os impostos, especialmente o IVA, não é preciso mais acções de fiscalização nas estradas, nos estabelecimentos e empresas. Pega-se nesses 3000 "mandriões" e colocam-se no territorial a perseguir os criminosos... Bom os criminosos excepto os que fogem ao pagamento dos impostos, porque, na verdade, esses não são bem criminosos... "
E assim foi! Lá foram para o Territorial os 3000 mandriões (piores que eles só mesmo os professores). Só que as mentes brilhantes esqueceram-se que dos 3000, 2900 eram oriundos da Guarda Fiscal, e a formação que tiveram foi sempre no âmbito fiscal: Contrabando, descaminho, controlo de passageiros (antes do SEF ) Impostos Especiais sobre Consumo, Contrafacção, Jogo Ilegal, etc. . Uma queixa de violência doméstica, um acidente de viação, ou mesmo situações de reposição da ordem pública eram, são, "chinês".
Claro que tudo se aprende, mas o mínimo que as chefias podiam ter feito, por respeito, não por nós patrulheiros que nunca o tiveram, mas pelos cidadãos que nos pagam o ordenado, era terem preparado um curso básico de instrução sobre o serviço territorial, para não andarmos por ali a "a apanhar bonés". A que se acresce a agravante de, devido à antiguidade, sermos quase sempre os comandantes de patrulha.

Não é só a imagem da Guarda que é afectada, é a nossa própria vida que é posta em perigo - há armas no territorial que não conheço o funcionamento, nunca sobre elas me foi dada instrução, mas tenho de as levar e “usar” (teoricamente) se necessário no serviço de patrulhamento - como conduz, também, a um desgaste ao nível psíquico que era evitado. Não deixa de "mexer com os nervos" estar sozinho no serviço de atendimento e não conseguir dar resposta às solicitações dos cidadãos que estou a atender.
Não é por acaso que os suicídios continuam e o serviço de psiquiatria há meses que não consegue dar resposta, i.e, não tem vagas. É o militarismo da GNR no seu melhor. Pena que os governantes da dita esquerda democrática continuem, ingenuamente, a deixar-se levar pelo canto de “sereios” dos militares saudosos do “Antigo Regime”. O novo Estatuto da Guarda aí está a prová-lo.

A REESTRUTURAÇÃO DA GNR E A FRONTEIRA MARÍTIMA




Sou Guarda de Infantaria e, portanto, de acordo com a alta classe, quase divina porque não se lhe conhecem erros, que manda em nós, não penso: obedeço e executo, apenas - como se quer do bom soldado de infantaria.
Pois é... mas o raio da Democracia Civil (esse "sapo" que o colégio de nobres militares que nos dirigem vão sendo obrigados a engolir) contamina. Por isso "desobedeço" e penso. Pouco, mas penso.
E penso que a REESTRUTURAÇÃO da GNR foi, em vernáculo "casernil", uma VERDADEIRA BADALHOQUICE! Tiveram cerca de três anos para preparar a mudança mas tudo foi feito "em cima do joelho", como sempre acontece nesta briosa Guarda e país.
Há coisas "hilariantes", coisas "anedóticas", que se não fossem de tão graves para a nossa segurança, e da Comunidade Europeia, dariam para rebentarmos de riso:
31 de Dezembro de 2008. Estou colocado no Destacamento Fiscal X, que tem por especial missão vigiar cerca de 120 quilómetros da uma nossa zona costeira. Estão nomeadas três patrulhas auto para efectuar a vigilância desde o anoitecer de 31 até à madrugada de 01 de Janeiro 2009.
Nesse dia, o comandante do Destacamento, sr. capitão "ABELHA", como é conhecido, ordenou:
"A Brigada Fiscal acaba às 24h00 e, portanto, a partir dessa hora acabam os patrulhamentos! Quem estiver no terreno, regressa. Quem estiver para sair, permanece no quartel!"
"E quem vigia a costa?", ainda ousou perguntar o sargento, meu comandante directo.
"Ó caralho, isso não interessa! Acabou, acabou, foda-se!" retorquiu o nosso brioso capitão, que gosta de empregar palavrões, certamente fazendo um esforço para tentar colocar-se ao nível da linguagem dos que pensa serem seus inferiores.
Bom, e assim continuamos por mais uns 7 ou 8 dias: dentro do quartel. Como a unidade que nos iria substituir, a Unidade de Controlo Costeiro, ainda não estava formada, como devia ( tanto mais que grande parte do nosso efectivo a iria integrar) está-se mesmo a ver que ninguém vigiava a nossa fronteira marítima nesses 120 quilómetros ( não sei se houve situações idênticas noutros locais do país).
Acontece que, certamente por "pura casualidade", na nossa área, num desses primeiros dias de Janeiro deu à costa um grande fardo de haxixe, tendo sido recolhido por um dos postos territoriais da nossa área, com honras de foto e reportagem em vários jornais.
E como hoje em dia o que conta é a imagem, mais que a competência e a responsabilidade, logo o brioso capitão que nos tinha ordenado ficarmos dentro do quartel durante uma semana, veio a correr dizer para iniciarmos de novo o patrulhamento à costa, mesmo antes da UCC estar operacional.
Mas o que é uma verdade, e vergonhosa, é que 120 quilómetros de costa estiveram desguarnecidos de vigilância durante uma semana, ficando os militares que o contribuinte paga para fazer esse serviço " a contar carneiros" dentro do quartel.
Certamente, por este exemplar comportamento, o capitão "ABELHA" foi ocupar lugar de destaque na recem criada UAF* de Lisboa,

* Ou Unidade de AFilhados como já é conhecida, pois todo o seu efectivo foi composto através de escolha. Os critérios é que nunca ninguém os soube... E que se use o critério de escolha para um ou outro lugar específico, ainda é aceitável, agora para uma UNIDADE NACIONAL INTEIRA!!!...( Foi por isso que os presuntos "pata negra" e outros esgotaram no NATAL passado).

Disse.



O REGRESSO DO SOLDADO DE INFANTARIA ( AGORA GUARDA DE INFANTARIA)



Caros camaradas,


Passados que são três anos, o Soldado de Infantaria, agora Guarda de Infantaria, REGRESSOU!

Não, não venho rico de Timor, nem mudei de viatura com os subsídios extraordinários que certos operacionais das ditas "unidades especiais"( das 9h às 17h, de segunda a sexta) - por isso são especiais - auferem.

Não, camaradas, mantive-me por cá e no serviço da "linha", como na extinta GF se designava os que faziam sentinelas e apeadas. Actualizando a linguagem à instituição será o equivalente ao patrulheiro do territorial. Continuo, pois, pobre.


Regressei, com o objectivo expresso de agradecer à classe superior que nos dirige, bem como ao sr. ministro da Administração Interna, o terem aceite a minha proposta, aqui expressa no primeiro post, de acabar com a designação/posto "soldado", própria das Forças Armadas, e substituí-la por "guarda", mais adequada à função policial da nossa instituição. E como a mudança não me trouxe qualquer regalia no vencimento, seria justo pagarem-me "direitos de autor" pela minha ideia agora transposta em Lei.


Somos um país de mudanças lentas e, portanto, não me sinto ofendido por não terem ido um pouco mais longe e aceite uma minha outra sugestão: acabar com as "Armas": Infantaria, Cavalaria, etc.., que obviamente são ridículas para a nossa estrutura de Força de Segurança.

Acabarão, certamente, mas só daqui a alguns anos.

Esperemos que em tempo inferior ao que a Igreja levou a admitir que, de facto, o a Terra gira em volta do Sol.